Uma ida às compras se tornou um episódio de angústia para a atendente de laboratório Fernanda Rodrigues, 42. Os irmãos dela, Leandro e Renata Rodrigues, contaram que, na sexta-feira (20), ela estava na loja Renner, do Shopping Bela Vista, quando foi acusada por um segurança da loja de roubar dentro do estabelecimento comercial.
Diante da acusação, Fernanda, que é hipertensa, teve um pico de pressão e desmaiou. A queda gerou uma fratura no tornozelo. Inconformados com a situação, os parentes da atendente, que estavam com ela, buscaram a gerência da loja para denunciar a agressão e, segundo eles, foram informados que o funcionário havia sido demitido e que não estaria mais nas dependências do estabelecimento.
De acordo com Leandro, a atendente de laboratório estava na loja escolhendo uma roupa quando foi surpreendida pela ação de uma outra cliente que, supostamente, havia furtado perfumes do estabelecimento. “Depois que essa cliente foi flagrada e retirada da loja, o segurança, de nome Caio Paz, chegou para minha irmã dizendo que sabia que ela estava na companhia da cliente que furtava e mandou minha irmã se retirar da loja com palavras agressivas”, disse.
Renata, que a acompanhava durante o episódio, revelou que a gerente da Renner explicou a elas que esse funcionário seria desligado de qualquer forma por outras razões, independentes ao ocorrido. “Ela se desculpou em nome da loja, mas as desculpas não retiram a ofensa e nem devolvem a saúde de minha irmã”, afirmou Renata. Ela ainda destacou que, quando buscou o funcionário para encaminhar o caso a uma delegacia, o segurança havia desaparecido.
Leandro disse também que, desde o primeiro momento, Fernanda, que é uma mulher negra, havia compreendido que a acusação teve um teor de racismo. “Buscamos a orientação de um advogado do Coletivo de Entidades Negras porque isso é inadmissível. Minha irmã foi acusada por ser negra. Nada nas atitudes ligavam ela à outra cliente que furtou os perfumes”, disparou.
Procurado pela reportagem, o Shopping Bela Vista informou em nota que prestou atendimento médico à cliente e ofereceu toda a assistência necessária enquanto ela esteve no empreendimento. “Ela fez o registro da queixa na Central de Atendimento ao Cliente e o shopping está aguardando a apuração dos fatos. O Bela Vista reitera que não compactua, não tolera e repudia quaisquer atitudes discriminatórias e reforça que possui um posicionamento democrático e de acolhimento à diversidade”.
De acordo com o advogado Marcos Alan Hora, o segurança da loja praticou o crime de calúnia, tipificado no artigo 138 do Código Penal, por imputar falsamente a prática de furto à Fernanda. “Houve também o crime de racismo, mais grave, tipificado no artigo 5º e no artigo 20 da Lei 7716/89, pois essa acusação teve por fundamento a discriminação racial (preconceito), único e exclusivo motivo da abordagem”, esclarece.
O advogado afirmou que, por não apresentar o autor do fato às autoridades policiais, cientes da prática de um crime, os prepostos da loja, assim como os do shopping, devem ser responsabilizados pela facilitação da fuga do referido autor, pois impossibilitaram a realização da sua prisão em flagrante. “Do ponto de vista do Direito Civil, existem danos morais e materiais a serem apurados em uma ação cível, que deverá ser proposta o mais rápido possível”, finalizou.
Posicionamento da Renner“A Lojas Renner apurou imediatamente o incidente ocorrido na loja do Shopping Bela Vista, em Salvador, na tarde de sexta-feira, 20 de maio de 2022, seguindo seu protocolo para relatos de casos de discriminação. Após verificar as imagens captadas pelo circuito interno de TV e analisar cuidadosamente os fatos à nossa disposição, não encontramos evidências das acusações relatadas.
Ressaltamos que prestamos toda a assistência necessária à cliente. Estamos prontos para colaborar com as autoridades competentes na investigação do acontecimento, fornecendo as imagens gravadas e colocando à disposição nossos colaboradores e demais evidências disponíveis. Temos o firme compromisso de apoiar no esclarecimento do caso, de forma a determinar as responsabilidades devidas o mais rápido possível.
A Lojas Renner lamenta toda a situação e reforça aos seus clientes e ao público em geral seu comprometimento com a promoção da igualdade racial. Praticamos esses valores em nosso dia a dia, inclusive com uma agenda de treinamentos sobre relações étnico-raciais, trabalhando de forma muito próxima com as entidades e iniciativas representativas, como o Movimento pela Equidade Racial (Mover) e o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR). Temos 32% do nosso quadro de líderes formado por pessoas negras e a meta pública de aumentar esse número para 50% até 2030. Essas ações reforçam o nosso compromisso na luta antirracista, bem como o respeito e a equidade que aplicamos em todas as nossas relações.”